domingo, 10 de junho de 2012

VIRADA REAL

Numa dessas viradas de ano em que estamos repletos de bons sentimentos e expectativas, experimentei sensações opostas no exato momento em que presenciava uma cena de um pai e sua filha, aparentando ter 3 anos. O homem caminhava e a menina corria para alcançá-lo, porém, o pai não queria que ela fosse com ele. A criança gritava "Pai", mas ele virava para ela e gritava para que voltasse para casa. E isso repetiu-se inúmeras vezes.

 A filha insistia, e o pai, já irritado, ameaça jogar a sandália nela. A menina chora ainda mais forte... desesperada. Vendo que ela não ia desistir, o pai pega umas pedras no chão e joga na direção dela que chora e corre. Ele atira várias pedras na direção da filha, que desvia com muita habilidade e decepção. Independente da teimosia da menina diante da situação, existem outras formas de tentar convencer uma criança a obedecer...mas o que mais choca é a forma agressiva de lidar com o ser humano e traumatizar para sempre lembranças na vida de alguém que absorve e aprende com exemplos de seus "heróis"...

E o ano apenas começava. Imediatamente, acordava, como de um pesadelo, para a realidade.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

PRODUTO FINAL

É interessante como que, em algumas vezes, pegamos no ar alguns momentos incomuns durante o correr dos dias. Ao sair do trabalho, encontrei com uma colega e conversávamos sobre a correria do dia a dia.


 Quando olhei para o lado, rapidamente, reunindo forças para qualquer tipo de reflexão, voluntariamente inconsciente, flagrei o olhar de um outro colega. Um funcionário exemplar, de uma empresa conceituada, estava na mesa de um bar com alguns amigos, após o expediente, tomando umas cervejinhas...típico de véspera de feriado. Até aí tudo normal.


 Mas o seu olhar me dizia algumas coisas. Além de visivelmente esgotado, seu olhar parecia transmitir insatisfação. Olhou para mim e com o olhar estático, apenas acenou.


Insatisfação que pode ser no amor, pode ser no trabalho, não importa qual verdadeiro motivo...Recentemente, um outro colega, da mesma empresa conceituada, passou em um concurso para uma empresa melhor. Seria um olhar refletindo essa obrigação de melhorias. Um olhar confuso de inércia e de constantes cobranças internas e externas?


Quantas pessoas querem ter a mesma oportunidade de emprego igual a do meu colega-funcionário exemplar? Bastaria para muitos. E para poucos? Como é conviver dançando a valsa das metas frustradas e alcançadas? A melodia que embala o ser humano em busca de aspirações impostas pelo meio, pela mídia, pela mente. Metas melhores que interessam a quem, de verdade???


O importante é chegar, realmente, onde se tem um pouquinho de prazer. E não se perder nas metas alheias com pesos e atrativos pessoais e alheios a nossas expectativas reais (ou surreais)...Em meio a tantas competições desgastantes da vida atual, o importante é chegar em algum lugar com prazer...mesmo que seja na mesa do bar.






VEZ NOSSA DE CADA DIA...

O que será que se passa nas cabeças das pessoas que chegam a encarar, constantemente, filas gigantescas em bancos, hospitais, supermercados e outros estabelecimentos urbanos? São verdadeiras maratonas que desgastam corpos e mentes de um modo irracionalmente desumano.

Normalmente, o silêncio toma conta dos que estão quase em transe, limitando a comunicação através de olhares e gestos discretos. Em outras situações, uma fila torna-se fonte de informações sobre nós mesmos.


Uma situação que chamou minha atenção, aconteceu ontem. Enquanto aguardava, exaustivamente, a "minha vez", na fila "comum" das Casas Lotéricas, presenciei uma senhora bem mais próxima a ser atendida, na mesma fila que a minha, divertindo-se, a criticar um jovem que estava na fila preferencial e usava aparelho auditivo.


A senhora, nem um pouco discreta, chamou a atenção de todos, das duas filas, e bradava que o rapaz estava sendo esperto e que não era, de modo algum, deficiente físico. Outras mulheres, próximas à tal senhora, olhavam com ar de zombaria para o rapaz que, já sem jeito e meio nervoso, comentou com a pessoa ao lado sobre a ignorância da senhora, ao mesmo tempo em que mostrava para todos o seu aparelho auditivo. 

Reflito agora: deficiência auditiva, então, não é mais um tipo de deficiência? E discriminação não é mais crime? Insensibilidade... deveria ser também! E a ignorância maléfica? O que é? 

Várias coisas, realmente, passam nas mentes das pessoas presentes nas filas exaustivas, porém, o julgamento humano parece intrínseco a todos nós mortais. Vários sentimentos também me visitam nesse momento: sinto vergonha, medo, assombro e lembro, meio tensa, dos tempos da Inquisição... Heranças reprimidas que, na primeira oportunidade, sempre falam mais alto.